terça-feira, 8 de julho de 2008

ENTREVISTA COM EDITOR DE ARTE - CAROLINA FILLMANN (REVISTA APLAUSO)

Dados da entrevistada:
Natural de Novo Hamburgo;
Formada em Jornalismo;
Trabalha na Aplauso desde 2000 mas com a editoração da revista desde 2004.

1) Quais são as atribuições de um editor de arte? Como é a sua rotina profissional?
Um editor de arte é responsável por uma equipe, e a minha equipe é responsável por toda a concepção gráfica - desde a escolha do papel, formato, gramatura, cor, texturizado, - dependendo do que se quer comunicar, nós fazemos uma análise de qual é a percepção visual que nós iremos transmitir em relação ao que se quer dizer de acordo com o texto e com o estilo da publicação, ou seja, como se pode trabalhar a parte visual na revista.
Então, a revista é um projeto que eu trabalho por matéria, o formato do papel é sempre o mesmo, mas com cada matéria eu faço uma leitura, converso com o editor, faz-se isso enquanto decidimos a pauta, decidindo o estilo de imagem que se quer passar, tipo de fotografia, contraste, algo mais geral, focado, e que varia também de acordo com a pessoa da qual se está entrevistando. Depois que a pauta é feita, e que os repórteres vão pra rua, depois deste processo, acontece outra conversa com o editor. Lemos a matéria, tentamos “entrar” dentro do conteúdo, tento formar uma posição de como aquela matéria está se referindo ao leitor.
Depois, com as imagens e com os elementos que eu tenho ao meu alcance, que são as fotos, recortes, fontes diferenciadas e alguns outros elementos, eu tenho que montar a estrutura da matéria. Claro que dentro de uma revista, se deve ter um cuidado visual, respeitando o estilo e ter em mente que a arte tem que comunicar junto com o texto, ela é um apoio, um não pode falar mais que o outro.
Também é função do editor, saber lidar com prazos, fazer pesquisas, levantamentos, ter a preocupação de saber exatamente a qual público a revista se destina, como a partir destes parâmetros vai ser trabalhada a arte, tanto na capa que tem um apelo mais forte quanto no interior. E de certa forma fazer isto harmonizar com o conteúdo.
A revista Aplauso tem um projeto gráfico, tem uma mancha, tem uma colunagem, tem um estilo para título de matéria, de borda, de legenda, então ela tem um projeto que é o limite, mas ela não é totalmente inflexível, ela tem permissões, justamente por ser uma revista de cultura e permitir que quando vai se falar em dança, nós possamos inserir movimento dentro, ou quando vai se falar de Rock n’ Roll nós temos condições de colocar algo mais contrastante na página por exemplo. Ela te dá um pouco mais de liberdade, por ter a preocupação de interagir com o texto para conseguir passar a mensagem, mesmo tendo um projeto e limites.

2) Você tem outra ocupação profissional?
Sim, juntamente com a parte de editoração da parte artística, atuo como Gerente Operacional da parte de Coordenadoria do Núcleo de Arte e Produção.

3) Como acontece o processo de ser decidido que material será publicado na revista? Quais são seus critérios na seleção desse material?
Antes de tudo, os parâmetros são decididos em uma reunião de pauta onde participam o editor de redação, editor da revista, repórter e alguém do núcleo de arte, normalmente essa reunião acontece um mês antes da próxima edição da revista, neste encontro serão decididos as matérias da edição, matéria dois, matéria três, articulistas, algum evento importante que devemos tratar. Depois de feita a pauta, o editor vai passar a pauta para o repórter e ver a necessidade de serem feitos registros, fotografias, dependendo de alguns locais, como o Santander Cultural, por exemplo, eles já possuem uma pessoa responsável pela divulgação e essa pessoa fornece as fotos, daí, nós trabalhamos com as imagens que vem dele.
Matéria feita, imagens pré-escolhidas, entra novamente tudo na editoria de arte, converso com o editor-chefe, repórteres, o material é analisado, compatível com a idéia que se deseja transmitir, perfeito! Eu entro em contato com todo o conteúdo que vai ser abordado e após tudo isso entro no trabalho de criação, que pode se desenvolver em apenas um dia ou não, no tempo da criatividade vir á tona. Na Revista Aplauso eu tenho a permissão de ter esse tempo.
Ás vezes falando com o termo do design, é preciso sair da frente do computador, no nosso núcleo de arte nós temos giz, pincel, lápis de cor,canetinha, cola, tesoura, o que precisar para criar, porque tem matérias que tu resolve com uma boa foto, que as vezes nem sequer precisa de edição, mas tem vezes em que é preciso criar, daí vou pra rua, pego uma máquina digital, aproveito uma árvore, um muro pichado que ficou legal, enfim, tu vai colher inspirações.
O processo de criação é bem aberto, ás vezes mesmo em casa eu lembro de algum material que eu tenho e que eu posso utilizar para algum efeito na revista.

4) Você considera importante a formação acadêmica nessa atividade?
Eu sou jornalista e aqui atuo junto á parte artística, não temos nenhum profissional especificamente da parte artística, acredito que a faculdade é um fio condutor, ela não é o teu limite de expressão. Eu já fiz cursos de expressão, de arte, de criação. É muito importante sim, tu ter uma noção teórica, porque isso te acompanha, e certos conhecimentos só a teoria vai te trazer, e a evolução do jeito como está, somente uma graduação hoje já não basta mais, ela é só o ponto de partida. E claro, não adianta ter uma graduação, se tu não tens disposição, porque uma graduação não te forma, ela forma um título, e o interesse, a disposição conta muito.

5) Não tendo formação artística, qual laço você tem diretamente com a arte?
Eu sou jornalista e a pergunta pode surgir: o que uma jornalista está fazendo em uma revista de arte? Mas, de certa forma eu sempre busquei este lado, eu li sobre isso, eu tento praticar, eu não ilustro, mas eu desenho do meu jeito, eu tenho um certo laço com a arte.


6) Quais são os meios que você utiliza para manter-se informada dos assuntos que podem vir a interferir na sua profissão?

Normalmente, o editor recebe as notícias: exposição acontecendo, artista lançando, músico divulgando cd, filmes, todas as notícias desse mundo nós recebemos e conversamos a respeito. Pela internet se sabe muita coisa, fazemos muitas visitações á exposições, e de certa forma temos que obedecer a certas tendências, que são esses períodos em que coisas surgem, existe uma integração muito grande neste meio. Tu tens que saber o que está acontecendo lá no mundo fashion, quais são os últimos carros lançados, o design de produto para onde está migrando, quem vem palestrar aqui em Porto Alegre, eu acompanho, posso não ser a maior fã do mundo, mas presto atenção nestas evoluções.
Livros de design, de arte, outras revistas, quem viaja traz revista de fora, tem que buscar fontes, o importante é estar sempre atenta a tudo.


7) Quais as dificuldades encontradas no desenvolvimento do seu trabalho?

Concorrência alta, mercado muito concorrido, o público gaúcho é um público difícil por ser muito conservador, dificuldade em expor idéias novas pela má aceitação dos consumidores da revista. As inovações são recriminadas. Remuneração insuficiente, comparado a outros locais do Brasil, como não somos uma capital muito grande, há muita disputa nestes locais, o que causa a concorrência porque no mercado não há capacidade para suportar a demanda de pessoas capacitadas.
Comparado ao mercado de São Paulo, cursos de aperfeiçoamento para se fazer são escassos, eventos estimulantes não vem para o Rio Grande do Sul, são localizados no eixo Rio-São Paulo.


8) Qual seria o perfil profissional ideal?

Alguém atualizado, bem disposto, com sede pelo novo, criar, que não desiste perante os primeiros obstáculos, pró-atividade é uma qualidade importante. Ter idéias, colaborar, sugerir, apresentar soluções e não problemas.


9) Condiz exatamente com o que o mercado de trabalho busca?

Acredito sim, que é nisso que o mercado profissional investe.

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